Rio de Janeiro - Nem o anúncio de que a cidade vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016 foi capaz de fazer com que alguns cariocas esquecessem os problemas enfrentados pelo Rio. Segundos após receber a notícia da vitória, em frente a um televisor colocado em uma rua da Saara [Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega], no centro de comércio popular da cidade, a aposentada Márcia dos Santos Souza disse que o evento pode trazer coisas boas para o país, mas preferia que os recursos fossem investidos em outras áreas, como saúde e segurança pública.
“Eu acho que [a Olimpíada] vai trazer muitas coisas boas para o Brasil, mas eu seria contra. Nós temos muita violência no Rio de Janeiro, muita coisa errada. Os hospitais estão caindo aos pedaços. O dinheiro poderia ir para a saúde, a educação e para acabar com essa bandidagem”, criticou ela, ao lado do filho de 11 anos, para quem tenta conseguir um exame de tomografia há um ano, sem sucesso.
“É como no Pan [Jogos Pan-Americanos de 2007]. Eles limpam a rua, mas depois volta tudo de novo: violência, mendigo, ladrão. Isso é gastar dinheiro à toa”, declarou ela.
Pedidos de melhoria também foram feitos pelo advogado Gustavo Guimarães, ainda com os olhos vermelhos pelo choro da emoção. “Espero que as autoridades façam por merecer o que o Comitê Olímpico Internacional está fazendo por nós e pela ajuda que o povo brasileiro está dando. É um povo sofrido, mas que merece muito”, disse ele.
Aos gritos de “Brasil-sil-sil”, a auxiliar de serviços gerais Joana Darc Marcelino era uma das mais entusiasmadas em meio à multidão que pulava de alegria. Mesmo assim, perguntada a respeito do que esperava com as Olimpíadas, respondeu: “Quero mais condução, saúde, paz e trabalho”, pediu a moradora do distante bairro de Santa Cruz, que lamentava o fato de a filha Raíssa ter largado o atletismo por causa de um namorado.
Para outros, entretanto, a vitória das Olimpíadas era só motivo de comemoração. “Estou maravilhosamente bem, satisfeitíssimo. O Rio vai ganhar muito trabalho, muita beleza e organização”, exaltava o aposentado Fernando Antônio, morador de Minas Gerais, que aproveitou a visita à Saara para rever os amigos dos tempos em que trabalhou ali.
Ao lado dele, vibrando com a festa, a cadeirante Elisabete Pereira Cruz, estudante de psicologia acompanhou desde o início a solenidade, realizada em Copenhague. Feliz com o resultado, ela fez apenas um pedido: “A gente quer educação e um Rio mais acessível”, lembrando que a cidade também sediará as Paraolimpíadas. (Agência Brasil - Vladimir Platonow)